Depois de A Mochila da Dalila e o Mistério dos Tremeliques, a escritora vizelense Carina Flor regressa à literatura infantil com Na Escola dos Dinossauros, uma obra que aborda, com sensibilidade e criatividade, a inclusão escolar de crianças com autismo.
O ponto de partida para este novo livro nasceu dentro de uma sala de aula. Professora há mais de duas décadas, Carina Flor desenvolveu esta história no âmbito de um projeto pedagógico no Agrupamento de Escolas de São Martinho, onde lecionava. A inspiração? Um aluno com autismo que a marcou profundamente — e que, além de a inspirar, deu vida ao livro com os seus próprios desenhos. “Criei esta história precisamente para um aluno meu com autismo poder ilustrar — e ele ilustrou o livro”, contou a autora. O aluno chama-se Afonso e, como faz questão de sublinhar, “não podia dar-lhe outro nome no livro”.
O entusiasmo gerado entre colegas, alunos e comunidade escolar levou à decisão de transformar o conto inicial, criado para uso interno, numa edição alargada, agora acessível ao público. “As pessoas começaram a dizer ‘eu queria comprar, eu queria comprar’, e surgiu a ideia de propor à editora. Fiz uma versão diferente, uma história mais desenvolvida em relação à que criei para o Afonso”, explicou.
A narrativa acompanha a personagem de Afonso, um jovem autista que, no âmbito de um concurso escolar, apresenta propostas para tornar a escola mais inclusiva. Num sonho transformador, conduz os leitores a um universo habitado por dinossauros muito diferentes entre si, mas onde todos têm o seu lugar. “Apesar de ser uma história divertida, com muito humor, apresenta algumas ideias que se podiam implementar nas escolas que temos hoje em dia”, referiu Carina Flor. “A verdadeira inclusão é nós adaptarmo-nos a eles, e não o oposto.”
Mais do que um simples livro, Na Escola dos Dinossauros propõe uma experiência interativa: no centro da obra, as crianças são convidadas a pintar dois dinossauros, tornando o livro verdadeiramente seu. “Achei que fazia sentido numa história que celebra a diferença”, justificou a autora, sublinhando o valor simbólico deste momento criativo.
Sem recorrer a linguagem técnica ou descrições clínicas, Carina Flor optou por uma abordagem ficcional, assente na empatia e na imaginação, para sensibilizar para a realidade do autismo. “É uma forma de dar visibilidade à problemática e, ao mesmo tempo, apresentar ideias concretas que podem tornar a escola mais confortável para o próprio autista, que muitas vezes sente dificuldades em ambientes ruidosos ou com excesso de contacto físico.”
A autora continua fiel ao seu estilo, com histórias que tocam em temas sociais de forma subtil, mas impactante. “O autismo não é romântico, não é fácil, mas é uma realidade. Temos de estar preparados para os receber da melhor forma e dar-lhes um lugar onde possam contribuir com o seu potencial.”
É também nas escolas que a escritora vizelense encontra o seu público preferido e a maior fonte de inspiração. “Dá-me gozo ir às escolas, sinceramente. É lá que aprendo e me inspiro. As apresentações vão começar por aí, sem dúvida.”
O livro poderá ser adquirido online, através do site oficial da autora (www.carinaflor.pt), na página da editora ou diretamente com a escritora. Embora ainda não exista uma data oficial de lançamento, a obra já seguiu para a gráfica e a expectativa é que esteja pronta a tempo da participação da autora na Feira do Livro, este fim de semana, no Multiusos Guimarães. “Espero já ter o livro físico para apresentar aos convidados da feira”, adiantou.
A fechar, Carina Flor deixou uma mensagem que resume a essência da obra e da sua missão enquanto educadora e escritora: “A literatura é uma arma gigante. A leitura é a melhor terapia, principalmente nesta altura em que estamos tão virados para os ecrãs. E quanto ao autismo, deixo uma palavra para as famílias, que são os verdadeiros heróis. Fazem o impossível para levar a vida, muitas vezes sem apoios. Só espero que as escolas estejam cada vez mais conscientes de que o autismo é apenas uma peça de um puzzle. Nós somos outra. E há lugar para todos.”