Foi assim que conheci o Macedo. Alheio ao mundo das futilidades, pintava o sonho nos mais maravilhosos tons de azul. Estou certa de que o azul foi sempre a cor do leito onde Macedo repousou nas suas horas mais sombrias. Refugiado na penumbra do seu ateliê, talvez ele tivesse chorado alguns tons de vermelho sobre a tela e, tal como o fez com a sua vida, deu forma ao vermelho e pintou a maçã.
O Macedo não é apenas o pintor de Vizela. O Macedo é da terra. Quem nunca se cruzou com ele pelas ruas da cidade? Quem nunca lhe levantou o braço de dentro do carro e recebeu um acenar de olhos doces enquanto ele interrompia a sua marcha sem medo de perder a rota?!
(Ainda o vejo subir e descer aquela estrada, caminhando muito devagar, como se o tempo tivesse ainda menos tempo do que ele para acontecer.)
O Macedo acontecia todos os dias! Todos os dias tinha um abraço e um sorriso largo para quem parava junto dele. Falava das pessoas, as que aconteciam com ele, com o entusiasmo de uma criança. Ele conhecia o verdadeiro valor das coisas simples. Era autêntico e a humildade ficava-lhe bem.
Macedo ainda vive nas suas telas, porque a sua criação é orgânica. Cada pormenor dos seus quadros tem emoções e gente dentro. Pintou sempre, pois o seu corpo cansado foi impotente face ao voo da sua maçã. A maçã que era alimento, quando o céu era horizonte e a terra era sustento.
A sua obra permanece e a mensagem de Macedo tem sede de encontro.
Espero que as suas criações encontrem uma casa para morar. Uma casa aberta ao mundo, na nossa cidade que foi chão dos seus caminhos e que foi teto dos seus sonhos.
Macedo saiu da tela para pintar a eternidade.
Mas o pintor vive na tela.
O pintor não morreu!
– Carina Flor (Crónicas RV Jornal, janeiro 2024)