Há dias, recebi a visita de uma amiga que, por força das circunstâncias, acabou por ter que se mudar para a capital para poder exercer funções como professora. A Betinha é cá da terra e há já um ano que não nos víamos.
Contextualizando, a Betinha que, por sinal, muitos vizelenses conhecem, sempre foi aquele tipo de pessoa com quem não podíamos caminhar na rua, a menos que não tivéssemos horários a cumprir. Pois, o mais provável seria um enorme atraso aos locais de destino graças às intermináveis paragens pelo caminho. É que a Betinha nunca conseguia dar mais do que sete passos seguidos sem parar para cumprimentar ou para conversar com este ou com aquele que passava.
A Betinha continua extremamente comunicativa e sociável, todavia, quando me visitou por estes dias, disse-me: “Vizela está tão diferente! Acreditas que andei pelo centro e, no meio de tanta gente, não encontrei ninguém conhecido?!”
Sim. Vizela está muito diferente. Cresceu! Cresceu muito! Abriu portas para o mundo e o mundo entrou para a ver. É assim que sinto Vizela nos dias de hoje, sempre que a comparo com os dias pacatos e com as noites desertas do meu tempo de adolescência e primeira juventude.
Tenho atualmente dois filhos, de cinco e sete anos, e é um alívio saber que a nossa cidade tem dinamismo e atrações suficientes para manter os pequenos por perto, pelo menos enquanto crescem e constroem as próprias pontes para a vida.
É incrível como os meus filhos vibram sempre que lhes propomos: “Vamos à praça?!”
A Praça da República e o Jardim Manuel Faria são os lugares favoritos dos pequenos e dos graúdos cá de casa, sempre que a vontade de socializar se sobrepõe ao descanso. Sem dúvida que o arquiteto Filipe Costa teceu um projeto de excelência ao criar as melhores condições para todas as faixas etárias, naquele que é o espaço protagonista e o cartão de visita da nossa cidade.
Quando precisamos de um refúgio, todos os caminhos vão dar ao majestoso Parque das Termas, onde o som das aves contrasta com as gargalhadas das crianças, criando uma sinfonia única e uma atmosfera quase mística que penetra a consciência de qualquer um. Aliás, nunca regressamos iguais depois de uma simples caminhada pelo parque!
E o S. Bento?! Este lugar único que sempre me aproximou de Deus, apesar de todas as minhas questões e reticências relativamente à religião. Como se agigantou sob aquele céu imenso que se deita além do horizonte dos nossos olhos! Um local de culto que nos convida a ficar mais um pouco, graças aos seus espaços de convívio e aos miradouros fabulosos que embelezam ainda mais este vale encantado.
Não posso deixar de focar o clima festivo que se sente em Vizela, seja qual for o lugar da cidade ou a época do ano. A cultura incendiou até as mentes mais fechadas e tornou-se acessível a todos, porque Vizela tem hoje uma dinâmica e uma vida arquitetadas num desenho universal onde todos cabem e todos pertencem.
Vizela cresceu! É, hoje, uma cidade da qual me orgulho, de quem falo de peito cheio e que já não carece de observações ou de complementos para indicar a sua localização geográfica.
– Carina Flor (Crónicas RV Jornal, julho 2023)